Olha que não estou falando do Mengão. As cores do campeão a que me refiro são azul e branca e o nome deste vencedor é Avaí o campeão catarinense de melhor campanha na história dos Brasileiros de Série A, era dos o pontos corridos. Os 57 pontos da impecável campanha avaiana colocam o campeão catarinense entre os seis melhores clubes do Brasil e um dos primeiros entre os classificados para a Copa Sul-Americana.

Nada mal para um estreante, o Benjamin da Série A. Aliás, entre os caçulas egressos da Série B, o Avaí também foi o melhor, superando o milionário Corinthians por boa margem de pontos. Poderia haver melhor campanha na estreia deste que é tido como “o Campeonato Mais difícil do Mundo?” Incrível, mas… poderia. Se o Avaí mantivesse as vitórias parciais, bem encaminhadas, em jogos nos quais vencia seus rivais com a vantagem de 2 a 0 – o que aconteceu contra Atlético(MG), Palmeiras, Botafogo e Santos – e computasse os oito pontos perdidos, teria disputado não só a Libertadores (e conquistado a vaga), mas o próprio título do campeonato!



Delírio? Euforia? Fanatismo cego? Torcedor cultiva sempre um “olhar oblíquo” sobre os fatos, até para enquadrá-los em sua ótica “torcida”. Mas não creio que seja o caso. Tivesse experiência de Série A – adaptação que veio aos poucos, a partir da décima rodada -, o Avaí poderia ter segurado aquelas vantagens, algumas delas perdidas nos últimos segundos de jogo. Então, aí sim, o resultado deste fantástico e histórico campeonato, que só se decidiu na última e “hitchcockiana” rodada, seria ainda mais surpreendente, com o caçula azul e branco entre os quatro grandes vencedores, classificado para a Libertadores.

Imagino o avaiano “Cocoroca” – o “fundador” Arnaldo Pinto de Oliveira – dividindo mesa no Bar do Céu, com Amadeu Horn, Saulzinho e Nizeta:

– Gente, o Avaí é a sexta maior potência do futebol brasileiro pentacampeão do Mundo!

E a parceirada, quase incrédula:

– Tásh brincando! Deve ser do Campeonato Citadino! – brincou Nizeta.

E “Cocoroca”, o pai do nome “Avaí”, todo orgulhoso:

– Olha aqui a tabela nos jornais: o campeão, mais outros grandes clubes de São Paulo, um de Belo Horizonte e agora, o Avaí – em sexto! E tem mais: ano que vem, com mais experiência, queremos a Libertadores, o título!

Luiz Henrique Rosa chegou com o violão, abancou-se, saldou os companheiros de paixão celestial e dedilhou:

– “Da Ilha, formosa, cheio e graça, o time da raça…”

Saulzinho elevou sua taça, acompanhado pelos demais acólitos:

– Arrombasi com esse hino, tu e o Fernandão!

Comemoravam um título! O de “campeão” entre os catarinenses em campeonatos de Série A, especialmente nesses últimos anos de “pontos corridos”, uma gincana interminável, de imensa dificuldade, um desafio até mesmo para grandes clubes europeus. Tirando Barcelona e Real Madri, clubes milionários e “fuori serie”, qual seria a colocação de grandes clubes do futebol espanhol se disputassem o Brasileirão?

– Olha – antecipou-se “Cocoroca” – duvido que chegassem na frente do nosso azurra!

Foi também o ano do Campeonato Catarinense (14 vezes), o da Copa do Brasil, o da Elite do futebol brasileiro e o da Copa Sul-Americana – com disputa pari-passu para a habilitação à Libertadores, em cuja perseguição estivemos até o último suspiro.

Para um caçula da Série A, mas “veterano” em glórias e conquistas, o ano de 2009 será lembrado como o do “Papai Noel Azul e Branco”. Chegamos ao primeiro altar do Brasil para ficar.

*Texto retirado do jornal Diário Catarinense edição do dia 07/12/09