Não há como negar que cidades inteligentes (Smart Cities) é um assunto da moda, e que muito tem se falado nisso no Brasil! Mas a pergunta que eu gostaria de lhe fazer é: Sua cidade pode ser considerada uma Smart City?

Segundo uma publicação da Juniper Research em 2017 “Uma cidade inteligente é caracterizada pela integração da tecnologia em uma abordagem estratégica para a sustentabilidade, o bem-estar dos cidadãos e o desenvolvimento econômico.”

Neste post, explorarei preceitos e visões comuns sobre o que é uma cidade inteligente, e no decorrer do post, você terá condições de responder minha pergunta inicial.

Uma cidade muitas vezes ganha seu status de “inteligente” quando processos específicos, como gerenciamento de informações e comunicações, se interconectam e usam tecnologias avançadas, como IoT (Internet of Things: dispositivos físicos conectados uns com os outros e com a internet) para melhorar suas operações e serviços. Esses serviços geralmente são baseados em automação e tecnologias inteligentes para gerenciar serviços públicos, como energia, abastecimento de água e coleta de lixo.

1. Como medimos se uma cidade é inteligente?

O tópico de como identificar ou medir como uma cidade inteligente é amplamente debatido, com muitas organizações fornecendo uma lista definitiva de critérios ou métricas “inteligentes” para as cidades. Aqui estão alguns exemplos de CITYkeys, European Smart Cities e Lendlease.

Neste blog, usaremos os critérios de um paper publicado pela Juniper Research em 2017 para medir o quão inteligente é uma cidade. No paper, a Juniper Research estabeleceu um sistema único de pontuação para analisar e avaliar a “inteligência” das cidades. A equipe mede a atividade de cada cidade observando os seguintes pontos de dados:

  • Transportes: Quão conectados e eficientes são os serviços? A cidade coleta dados do monitoramento de tráfego em tempo real e usa esses dados para informar os ajustes de fluxo de tráfego e sinal, com base nos requisitos de resposta a emergências?
  • Saúde: Quão inovadora e impactante é a abordagem dos serviços? A cidade tem regulamentos de emissão de ar e soluções de transporte saudáveis?
  • Segurança pública: Como a tecnologia impacta a cidade para a segurança pública? A iluminação pública inteligente foi implantada? A análise inteligente de vigilância por vídeo ou software de crime preditivo e de risco de incêndio estão sendo usados?
  • Produtividade: Quão colaborativo e co-criativo é a estratégia inteligente da cidade? Eles estão organizando conferências e hackathons para reunir diferentes partes interessadas da cidade? A cidade incentiva talentos que contribuam para a economia?
  • Setores de energia: Quão avançado é o setor de serviços urbanos? A cidade está aplicando tecnologias, como sistemas de semáforo inteligente controlados por Inteligência Artificial (AI), soluções de armazenamento de energia em casa, painéis solares e infraestrutura para carregamento de EV?

A partir da avaliação acima, uma cidade é inteligente com base no fato de implementarem tecnologias avançadas para otimizar seus processos, custos e ofertas de serviços. Eu não preciso saber onde você mora aqui no Brasil, e nem ser vidente pra saber que sua cidade hoje (em 2018) provavelmente não é uma cidade inteligente.

2. Por que nossas cidades não são inteligentes?

Para responder essa pergunta, irei fazer algumas outras perguntas (e respostas) para você poder entender melhor os motivos.

a. A inovação é sempre visível?
A inovação pode assumir muitas formas diferentes. Muitas vezes ouvimos falar das tecnologias empolgantes e chamativas que estão em destaque nas manchetes do meios de comunicação, mas menos empolgantes, mas igualmente impactantes, são inovações como uma nova maneira de organizar uma equipe ou um novo sistema de gerenciamento.

b. As nossas expectativas sobre o que uma cidade inteligente é alta demais?
Todos os dias, ouvimos falar de uma nova tecnologia que melhorará drasticamente nossas vidas – da realidade virtual à tecnologia de reconhecimento facial e serviços robóticos. Essas tecnologias podem estar se tornando mais comuns no setor privado, mas temos expectativas reais de quão rapidamente essas tecnologias podem ser integradas em nossos serviços públicos e infraestrutura?

c. Temos observado alguma melhoria em nossos serviços de coleta de resíduos?
Por exemplo, canais de comunicação mais inovadores, como aplicativos e chatbots? Podemos considerar estes avanços em tecnologia no setor público, com a mesma velocidade com que novas tecnologias vem sendo aplicadas no setor privado?

d. As medições de uma cidade inteligente consideram a experiência do cidadão?
Os cidadãos têm diferentes prioridades para as autoridades municipais e a agenda da cidade inteligente – eles se preocupam em viver suas vidas – sobre suas famílias, suas carreiras e seu bem-estar. Talvez tudo o que eles esperam é que os serviços pelos quais pagam (através de impostos) atendam às suas necessidades e trabalhem perfeitamente ao lado de suas vidas ocupadas. Talvez esses serviços pudessem:

  • Incorporar a IA (Inteligencia Artificial) nos smartphones para fornecer orientação se eles se perderem ou sofrerem atrasos durante seus deslocamentos?
  • Usar VR (realidade virtual) para adicionar um valor experiencial ao sistema de transporte da cidade?
  • Identificar um médico adequado para fornecer uma consulta, sem longos períodos de espera ou vários encaminhamentos?
  • Serviços interconectados, para que eles não precisem fornecer repetidamente as mesmas informações em todos os lugares (ou seja, um sistema “único” em vez de um sistema desconectado)?
  • Fornecer interfaces e dispositivos digitais acessíveis e intuitivos para pessoas de todas as idades para gerenciar suas utilidades e obter insights sobre seu uso de energia?

3. Como as nossas cidades podem ser inteligentes para os cidadãos?

As cidades existem para atender às necessidades das pessoas – sejam elas de trabalho, educação, sistema de saúde ou cultura. As necessidades das pessoas devem estar no centro dos nossos serviços públicos e privados. Apesar de uma tendência crescente para o design centrado no usuário, as empresas ainda tendem a ditar a agenda da cidade. Como podemos reorientar sua abordagem para garantir que as necessidades dos cidadãos sustentem o design e a execução dos serviços da cidade?

E se as autoridades e empresas da cidade utilizassem uma abordagem de baixo para cima para a inovação – garantindo que as ideias, os processos e as tecnologias se baseassem na contribuição dos cidadãos? Isso pode não apenas resultar em serviços mais inteligentes, mas também produzir uma melhor experiência do usuário para os cidadãos, que se sentiriam mais capacitados em como as cidades são definidas – em vez dos grandes provedores de serviços que atualmente dominam o mercado. Um passo para isso é uma estratégia de implementação de longo prazo que instrui as pessoas que executam esses serviços e estão em contato direto com o usuário. Ao incorporar sua opinião e experiência, poderíamos oferecer uma abordagem mais focada no ser humano, refinada e fundamentada em pesquisa?

4. A solução pode ser encontrada no design de serviços?

O que as “cidades inteligentes” podem fazer para implementar e melhorar sua experiência de serviço? E se os seguintes princípios sustentassem nossas cidades?

  • Foco no Usuário: O cidadão deve estar no centro de todo serviço.
  • Co-Criatividade: Cidadãos, setores público e privado devem estar envolvidos no processo.
  • Sequenciamento: Os serviços devem ser visualizados por seqüências ou momentos-chave do cliente, é importante entender o que e quando as coisas acontecem. Antes, durante e depois do serviço.
  • Evidenciamento: Todos os envolvidos no fornecimento do serviço precisam estar cientes da experiência do serviço.
  • Holística: O design de um serviço deve levar em conta toda a experiência do serviço. O contexto é importante.

No Reino Unido, o Governo (Gov.uk) já implementou com sucesso uma estrutura de design de serviço, que segue uma abordagem de design focado no ser humano. Isso é demonstrado pelos Serviços Digitais do Governo (GDS) que estão liderando a transformação dos serviços do governo do Reino Unido de físicos para digitais. A GDS tem seu próprio conjunto de princípios de design, mas, em geral, sua estratégia de processo e serviço reflete os 5 princípios acima mencionados por Marc Stickdorn. É geralmente aceito na indústria do design que você deve “sempre começar com o usuário”.

Uma solução é que as cidades inteligentes aspirantes considerem seu próprio conjunto de princípios. Isso permitiria aos provedores de serviços do setor público introduzir uma abordagem focado no usuário, mas também ofereceria um conjunto de princípios a serem seguidos por empresas privadas. Uma questão a considerar é como poderíamos aplicar essa abordagem a todos os serviços da cidade?

Embora o governo seja um grande exemplo para o setor público e privado, a maioria dos serviços municipais não é apenas pública e, portanto, não há padrões para garantir a qualidade nos serviços urbanos. Isso parece especialmente importante para grandes cidades inteligentes como Londres ou Nova York, que lutam para competir com cidades inteligentes menores, como Copenhague ou Amsterdã, já que o tamanho populacional maior interfere nos serviços e nas experiências que uma cidade inteligente oferece.

Serviços como energia, educação e transporte são parcialmente substituídos por organizações privadas e muitas vezes não colocam o usuário em primeiro lugar ou pensam em uma experiência de serviço holística antes de criar seus serviços. Organizações privadas e públicas têm uma agenda diferente; a questão é como eles podem se tornar mais alinhados?

5. Conclusões

Como podemos ver no artigo, se tornar uma cidade realmente inteligente não é algo fácil, e não acontece da noite pro dia. É um trabalho que precisa de tempo e muito esforço para se materializar. Eu não conheço todas as cidades do Brasil, mas as que conheço não consigo ver nenhuma como um cidade inteligente.

Meu objetivo neste post, foi mostrar pra você que pra ser uma cidade inteligente é muito mais complexo do que apenas liberar acesso “Wi-fi” para a população, é um caminho duro e tortuoso até poder chegar ao nível de se intitular uma cidade de “inteligente”.

Fonte: Organicity